quinta-feira, 31 de maio de 2018

Pronto para o século 21: O Superman elétrico!

Capa de Action Comics #738
A década de 1990 foi uma época curiosa para os quadrinhos. Com o boom da Image, Marvel e DC, rivais de longa data, tentaram o que puderam para alavancar suas vendas e revitalizar personagens para uma nova demanda. O que o mercado viu foi o auge das jaquetas de couro, armaduras e tragédias nas vidas dos heróis. Batman teve a coluna quebrada e foi substituído por um homem perturbado e violento; Hal Jordan apagou o universo ao brincar de Deus; e o Coringa, bom.... ele vendeu a alma em troca de charutos cubanos.  

E tinha ele. O maior herói de todos os tempos. O personagem que deu início a Era de Ouro dos quadrinhos: Superman. Era óbvio que o status quo do Homem de Aço não passaria batido nos anos 90. Afinal, por conta do estilo escoteiro, o último filho de Krypton não era bem visto na nova fase dos gibis. Em cerca de 5 anos, o Azulão morreu, ressuscitou (com direito a mullets), viu Metrópolis ser destruída e ainda conseguiu tempo para casar. Parecia que o Sol nunca ia se pôr nas mentes criativas dos autores das histórias do Super naquela época.  Mas enfim, ele se pôs. Literalmente!

O Superman do novo milênio
Em 1996, na saga Noite Final (Os Melhores do Mundo #2-8, no Brasil) o sistema solar foi ameaçado pela criatura chamada Devorador de Sóis, que após cobrir o Sol, lançou a Terra na escuridão de uma noite gelada que durou semanas. Sem sua fonte de poderes, Superman se viu enfraquecido e impotente. O vilão foi derrotado após o sacrifício de Hal Jordan. E a estrela voltou a brilhar. Mas isso não significou o retorno dos poderes do Homem de Aço.

Foi aí que começou a jornada de Kal-El para se restabelecer. Uma busca que as mentes criativas por trás do Homem de Aço na época seguiam nos escritórios para alavancar as vendas da linha de revistas do herói. Era hora de preparar o personagem para o século 21. Mas como fazer isso? 

A polêmica ideia de dar poderes elétricos ao último filho de Krypton surgiu do desejo dos escritores Dan Jurgens e Karl Kesel de recontar a história do Superman Vermelho e do Superman Azul da Era de Prata, na qual o Homem de Aço era separado em dois seres, cada um com personalidade e poderes diferentes. Algo que o colorista Glenn Whtimore sempre apoiou, como o próprio Jurgens confirmou em entrevistas.  Aquela era a hora perfeita para isso, afinal, já tinham até matado o personagem. O que poderia dar errado?

A chocante capa de Super-Homem #24

Enquanto isso, nas páginas dos quadrinhos, Clark seguia a busca para recuperar os poderes. Vários experimentos foram testados, até o ponto em que ele mergulhou no próprio núcleo incandescente do Sol.  O maior herói de todos os tempos estava de volta, mas com novas habilidades, diferentes das que possuía e imprevisíveis. Chocante (não pude resistir a piada rs).  Em 1997, Superman #123 (Super-Homem #24, no Brasil) deu início a 'fase elétrica'.

Em conversa com o site ComicBook.com, o escritor Karl Kesel deu detalhes da transformação:
"Pela primeira vez, ele (Superman) não sabia do que era capaz, ele não sabia o que poderia ou não machucá-lo. Eu gostei da idéia de mostrar Superman aprendendo, às vezes falhando, porque, bem, isso também nos deu a oportunidade de dar uma nova reviravolta aos velhos inimigos, mas, no final, o ponto real do arco seria: não são os poderes que fazem o Superman o que ser ele é, e sim o próprio Superman. Eu não tinha ideia do que esses novos poderes poderiam ser - e eu realmente queria que outras pessoas contribuíssem com essa parte para que mais pessoas fossem investissem na história. Acredito que Jon Bogdanove (escritor e desenhista) sugeriu os poderes energéticos ".
Anúncio publicado em Super-Homem #22
Esqueça visão de calor, superforça, velocidade e raio-x. O Superman passou a criar campos eletromagnéticos, controlar impulsos do sistema nervoso, ficar intangível, absorver golpes e transformá-los em rajadas, ler CDs com os olhos (!) e sentir enguias elétricas (?!).

"Pronto para o século 21!", essa era a chamada para a nova fase da vida do Azulão, que literalmente ficou dessa cor, já que ele passou a usar um uniforme de contenção devido a instabilidade dos novos poderes. Apesar do 'S' também ter sido reformulado, os elementos tradicionais ainda estavam lá, como o relacionamento com Lois Lane, a participação na Liga da Justiça e a identidade secreta de Clark Kent.  Aos poucos, novos conceitos foram sendo inseridos enquanto Kal-El e os leitores se acostumavam.


Uma das muitas propagandas da editora Abril

A transformação causou frenesi no Brasil em 1998. A editora Abril abusou das propagandas em terras tupiniquins, mas a repercussão no resto da mídia de longe lembrou a da morte e retorno do personagem em 1992/1993.

Os dois Supermen
O choque (desculpa a piada, mais uma vez) foi grande. E é bem verdade que apesar do interesse inicial, os fãs não abraçaram tanto a ideia. Foi então que a equipe artística do Homem de Aço enfim realizou o desejo antigo e recriou "The Amazing Story of Superman-Red and Superman-Blue" de 1963. Após cair em uma armadilha do Superciborgue, o nosso herói é dividido em dois seres: um azul e outro vermelho. A história foi publicada no Brasil em Super-Homem: O Homem de Aço #1 (1999) e originalmente em Superman Red/Superman Blue Special #1, de 1998.

A contraparte Azul era mais calma, pensativa e serena. Já o Super Vermelho mais rebelde, agressivo e impulsivo. Nem Lois aguentou e pediu um tempo. E a dupla passou a ser alvo da briga entre as personagens Máxima e Obsessão
 
A homenagem foi feita, mas em contrapartida, os fãs odiavam mais e mais as histórias. De fato, aquele não era o Superman que o século 21 precisava (ou queria). A DC entendeu o recado e para comemorar os então 60 anos do Homem de Aço, elaborou, em 1998, a saga Gigantes do Milênio (Os Melhores do Mundo # 17-18, Super-Homem #32-33 e Super-Homem: O Homem de Aço # 4). Na trama, três criaturas ancestrais despertaram após milhares de anos por conta da divisão de Superman. Na tentativa de impedir as atitudes dos seres místicos, vários heróis se unem. No fim, os Supermen  se sacrificam ao expandir todas suas energias eletromagnéticas para "limpar" as linhas magnéticas da Terra, levando ao fim da destruição causada pelos gigantes.  Essa foi a solução encontrada para acabar com 'fase elétrica'. 

Pôster de Superman Forever - Alex Ross
Em junho de 1998, os fãs voltaram a encontrar o tradicional 'S' vermelho e amarelo estampado nas capas com a publicação do especial  Superman Forever (Super-Homem Eternamente, de 1999). Era o retorno do Homem de Aço que todos conhecem e amam. 

Em 2018, enquanto a DC comemora os 80 anos do escoteiro, a fase elétrica passou a ser republicada nos Estados Unidos em encadernados . Para deleite de leitores, que assim como eu, amam essas coisas bizarras.

4 comentários:

  1. Eu nunca tive a chance de ler completa essa fase do Super sabe quais os quadrinhos atuais que recontam essa história?

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    1. Olá, Deatrius. Desculpa a demora para responder. Essa fase só saiu no Brasil em formatinho pela Abril nas revistas Super-Homem (números 21 a 33) e Super-Homem: O Homem de Aço (1 a 5). Mas a DC vai começar a republicar toda a fase em encadernado lá fora. O primeiro volume está em pré-venda na Amazon Brasil por 94 reais ('Superman Blue Vol.1')

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  2. Pqp - tenho a saga completa do 21 ao 33!

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